sábado, 26 de março de 2022

A ponte da Foz

Parei a meio da Ponte para olhar

Uma casinha alegre, com janela

E ouvi um rouxinol ali cantar

Parecia minha tia, era a voz dela...

Cantigas que eram todo o seu enlevo

Ali, ela as cantava docemente

Cantigas que tinham um doce segredo

Com o Rio Guadiana ali à frente


Na Ribeira da Foz daquele rio

Parei novamente para escutar

Minha tia cantava ao desafio

Com as águas cantantes desse mar


No lindo monte da Foz de Odeleite

Vê-se um rio, que até parece um mar

Sua Ribeira é linda e se deleita

Quando a Maria entoa o seu cantar...



Clara Mestre

A Névoa

Vem do mar, traz muita mágoa

A névoa, que envolve o mundo

Sua água revoltada

São queixas do mar profundo

Ando a escutar-lhe os lamentos

E seu triste soluçar

Custa-me ouvir seus tormentos

Vou cantar p'ró embalar

Porque a vida é sofrimento

E o mundo está-se afogando

A cantar mudo-lhe o vento

P'ra névoa se ir dissipando...

Clara Mestre

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

O Vento

Quando faz vento, reparem
No bailado das folhinhas
Elas giram, elas voam...
São pequenas andorinhas.
Vento forte faz girar
Tudo quanto apanha à frente
O vento no seu soprar
Às vezes apanha "Gente".
O vento quando agitado
Traz-nos grandes temporais
Sem vento, não há estragos
Com vento, é triste, é demais...

Clara Mestre

Bairro da Madragoa

Tive uma tia varina
Mas não a recordo à toa
Era a mulher mais bonita
Que havia na Madragoa
Eu era então pequenita
Quando a ia visitar
Vi a fala das varinas
E o seu modo de estar
Muita discussão havia
Presenciei mil chapadas
Não eram pra brincadeiras
Estas varinas ousadas
Minha tia era perfeita
Negro era seu cabelo
Entrelaçava-o muito bem
Fazia gala em trazê-lo
Vestia aventais bordados
Qual deles o melhor
Trabalhava com o peixe
Uma varina a primor
Varinas da Madragoa
De um bairro bem popular
Mais um da nossa Lisboa
Que aqui estou a recordar...

Clara Mestre

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Menino da Rua

Menino da rua
és folha agitada
p'lo vento
Não sentes o frio
e num arrepio
soltas um lamento
Menino da rua
sem eira nem beira
O mundo indiferente
passa à tua beira
Menino da rua
andas por aí
Queimado do Sol
sem pena de ti
sem encontrares amor
vais esquecendo a dor
a dor que é só tua
Mas nunca te esqueças
que aquilo que és
é obra da rua
Menino da rua
de esperança perdida
levanta a cabeça
e sorri pra vida...


Clara Mestre