sexta-feira, 12 de novembro de 2021

O Vento

Quando faz vento, reparem
No bailado das folhinhas
Elas giram, elas voam...
São pequenas andorinhas.
Vento forte faz girar
Tudo quanto apanha à frente
O vento no seu soprar
Às vezes apanha "Gente".
O vento quando agitado
Traz-nos grandes temporais
Sem vento, não há estragos
Com vento, é triste, é demais...

Clara Mestre

Bairro da Madragoa

Tive uma tia varina
Mas não a recordo à toa
Era a mulher mais bonita
Que havia na Madragoa
Eu era então pequenita
Quando a ia visitar
Vi a fala das varinas
E o seu modo de estar
Muita discussão havia
Presenciei mil chapadas
Não eram pra brincadeiras
Estas varinas ousadas
Minha tia era perfeita
Negro era seu cabelo
Entrelaçava-o muito bem
Fazia gala em trazê-lo
Vestia aventais bordados
Qual deles o melhor
Trabalhava com o peixe
Uma varina a primor
Varinas da Madragoa
De um bairro bem popular
Mais um da nossa Lisboa
Que aqui estou a recordar...

Clara Mestre

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Menino da Rua

Menino da rua
és folha agitada
p'lo vento
Não sentes o frio
e num arrepio
soltas um lamento
Menino da rua
sem eira nem beira
O mundo indiferente
passa à tua beira
Menino da rua
andas por aí
Queimado do Sol
sem pena de ti
sem encontrares amor
vais esquecendo a dor
a dor que é só tua
Mas nunca te esqueças
que aquilo que és
é obra da rua
Menino da rua
de esperança perdida
levanta a cabeça
e sorri pra vida...


Clara Mestre

Memória

Nossa memória é um prodígio.
Ela tem o condão de nos manter
em permanente sintonia,
com o passado, pronta a
devolver-nos sempre que
lhe pedimos, num reavivar
de recordações, boas ou más
guardadas no nosso subconsciente.
Minha infância... minha adolescência,
meus sonhos, meus filhos, meus netos,
a vida, o trabalho, as cantorias,
o voluntariado, o yoga, o teatro,
a família, etc, etc, etc.
Se não fosses tu, memória,
meu passado estaria morto.
E eu preciso dele
para me sentir viva.


Clara Mestre

A fala de uma mulher

Cheguei: Andei sofrida
no ventre da minha mãe
eu de lá vim a chorar
quando aqui me deparei...
Não tenho tempo a perder
desta vida nada sei,
com licença, com licença,
que o depois vos mostrarei
Sou força da Natureza
Sou como a fúria do mar
E que ninguém me detenha
que eu cheguei para ficar...


Clara Mestre

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Moaxahas

Lisboa reflete luz por todo o lado
E quando a noite surge, canta o fado

Lisboa de marialvas e fadistas
Tem orgulho no fado e seus artistas
Lisboa soma e segue nas conquistas
Lisboa às vezes tem um ar zangado
Porque o Tejo, seu amor lhe tem negado

Lisboa é cidade amada e querida
Tem cor, tradição e muita vida
"Mas até a sonhar é atrevida"
Acredito que nem tudo é bem amado
Por isso é que Lisboa tem o seu fado


Clara Mestre

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Resposta a um poeta

A minha poesia
Não é a tua poesia
Não é intelectual...
A minha poesia
É simples, como eu
Tem o cansaço do pobre...
Tu vês um mundo só teu...
Eu vejo crianças a morrer
de fome...
Velhos, doentes, a morrerem
sem ninguém...
Por isso pergunto:
Quem salva quem?
Tantos refugiados
Repatriados num abandono
total
(Vomito este mundo
desvairado e gente do mal)
Porém a minha poesia
Também é florida
Adoro a Primavera
E canto um cântico à vida...
Os campos, as árvores
Os passarinhos
O Amor no olhar dos namorados
Uma floresta
e seus caminhos...
Mas... muita coisa me agonia
Por tudo o que sinto e leio, Sei...
que a tua poesia
não é a minha poesia...

Clara Mestre

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A minha arrecadação


Na minha arrecadação

Há livros que nunca li

Caricias e vãs suspiros

E a lembrança de ti...

Na minha arrecadação

Aprisionei o viver

E a ânsia de liberdade

Que ninguém pode entender

Na minha arrecadação

Os beijos andam no ar

Abraços sem terem fim

E um Sol que quer brilhar

Na minha arrecadação

Há desejos incontidos

Escondi lá os meus sonhos

Pra ficarem bem escondidos...

Na minha arrecadação

Há um mundo para ver

Segredos sem terem fim

E muitos livros para ler


Clara Mestre

Vistas da aldeia

Esteja eu onde estiver

Pesquisando algo de novo

Meus olhos sempre se cruzam

Com a Serra do Socorro

Mas também há nesta aldeia

Um campo bem visionário

Para onde viro o olhar

Vejo sempre o campanário

E estas duas visões

Perseguem o nosso olhar

É linda esta minha aldeia

Pra quem a quiser amar

Mas, tem muitas coisas mais

Bonitas, são mais de mil

Traz o coração em festa

Esta aldeia do Gradil...



Clara Mestre

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Bora lá...

 "Bora lá"

Isto eu gosto de dizer

Com toda a minha energia 

P'rá frente! Com todo o meu querer

Cantar só porque gosto,

Sem ensaios sem Dó nem Lá

É a vontade do querer

Então digo: Bora lá...

E tem sido sempre assim

Sem saber seja o que for

Bora lá! Quero lá saber...

Quero é cantar por amor

Eu amo tantas coisas...

Cantar e dizer poesia

Bora lá!... Perdoem cá

Toda a minha rebeldia

(Os amigos até gostam

ricos amigos que tenho)

Bora lá... Continuemos

Bora lá, com muito engenho

Eu queria ser uma artista

Nunca é tarde p'ra aprender

Bora lá, agora é que isto vai aquecer!


Clara Mestre

A minha varanda

A minha varanda

tem a capacidade

de me deslumbrar

e dela sinto vaidade

tudo quando dali observo

Faz-me divagar

mostra o mundo colorido

que me dá mil motivos

p'ra sonhar

Vejo da minha varanda

o meu pedaço de mar

azul, malandro, vaidoso

sequioso em me agradar

A minha varanda é cantante

é linda, sem ser virtual

tem vistas deslumbrantes

fica numa praça principal

E nesta grande varanda

o Sol aqui brilha mais

é poesia sem fantasia

são encontros de vitrais...


Clara Mestre

sexta-feira, 21 de maio de 2021

A Caixa

A cabeça também

é uma caixa

ou encaixa

ou não encaixa.

Há que matar

a cabeça a estudar

(Mas quem não quer)

O melhor é enfiar

uma caixa na cabeça

e deixá-la lá ficar

a hibernar...


Clara Mestre

terça-feira, 20 de abril de 2021

Já não me sei entender...

 Já muitos escreveram tudo

E há tão pouco a dizer

Tanta letra, tanta escrita

E tanto por entender...

Quanto mais cresço em idade

Mais parva me sinto ser

Com tanta versatilidade

Já não me sei entender

Com tanto intelectual

E tanta gente perfeita

Põem doente o país

Que nunca mais se endireita...

Não há seguro que nos valha

Nem há seguros de letras

Cá nos vamos segurando

Com meia dúzia de tretas.


Clara Mestre

Louvor

Enfermeiros e enfermeiras

Que nos cuidam da saúde

São grandes profissionais

Com sua solicitude

De bandeira desfraldada

Enfrentando um "mundo novo"

São eles grandes obreiros

Que cuidam de nós, o povo.

São presença preciosa

Em todos os hospitais

P'ra tanta gente doente

Eles nunca são demais

Merecem nosso respeito

E a nossa compreensão

Dar valor ao seu trabalho

E à sua abnegação...

Por isso vos digo aqui

Que enalteço a profissão

Destes bons profissionais

Na sua dedicação.

Enfermeiros e enfermeiras

Sois vós dignos de louvor

Por vosso trabalho insano

Onde há Desgaste e Amor.



Clara Mestre