terça-feira, 3 de setembro de 2013

Uvas

Oh uvas da nossa terra
Cachos de vidas sofridas
Sabem a mel e a fel
As uvas das nossas vidas.

Um cacho de uvas dourado
Nem sabe o gosto que tem
Quando vem adocicado
Sabe a beijinhos de mãe.

Minha adega de ternura
Meu vinho novo de amor
Por tanto cacho dourado
Eu te dou graças Senhor.



Clara Mestre

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Verão Triste

O verão era o telhado do pobre
Era a roupa do mendigo
Alegrias e desfolhadas
E a ceifa do nosso trigo.
Mas... tudo isso vai mudando
Hoje há fogos pavorosos
Que nos deixam muito tristes
A pensar em seres maldosos
Por que fazem tais loucuras,
Que não pensam no irmão?
Gente que fica sem nada
Sem casas, sem ganha pão.
Não há justiça p'ra isto?
Quem acode à aflição?...
Senhores ministros, estadistas,
Esperamos de vós ação
Não gastem dinheiro à toa
Comprem meios de salvação
E tenham pena dos pobres
Que ficam sem lar, sem pão.
Nós que não fomos queimados
Temos mais é que pensar
Nessas gentes, nessas terras
E nos meios p'rós ajudar.

Clara Mestre

Inferno

E o fogo devorou, devastou
Toda aquela serrania
E eu perguntava a chorar
Onde é que Deus estaria
E pedia em oração
Que Deus nos desse um sinal
E que aliviasse um pouco
Aquele horror infernal.
Deus ouviu as muitas preces
De ajuda, que lhe pediam
E do céu caiu a chuva
P'ra apagar tanta agonia
Foi pouca, mas ajudou!...
Foi um pouquinho do céu
Que veio à terra dizer
Que Deus não nos esqueceu.

Clara Mestre

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Brindar

É uma palavra bizarra
Brinda-se pela felicidade
Brinda-se pela saúde
Brinda-se por estar entre amigos
Brinda-se aos tempos antigos
Brinda-se aos camaradas
Brinda-se às pessoas amadas
Brindam todos de mãos dadas
Brindemos ao amor
E brindo a ti amigo leitor...

Clara Mestre

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Tiro o Chapéu

Tiro o chapéu a este povo
P'lo valente que ele é
Transforma tristeza em riso
E aguenta de pé
Neste lindo Portugal
"De saúde nem se fala"
"As finanças estão doentes"
E o povo aguenta e cala
Não vale a pena falar
Já estamos roucos de todo
Já nos custa acreditar
Que alguém pense neste povo
Mas... não vamos perder a Esperança
Pois ainda queremos ver
Um país equilibrado
E sempre pronto a crescer
Portugal das descobertas
Que tem no mundo, um bocado
Nunca poderá esquecer
Toda a glória do passado.

Clara Mestre

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Incêndios

Nossa terra está a arder,
Vão-se os verdes que amo tanto
O povo fica a sofrer,
Sufocado em fumo e pranto
Sofremos com as vinganças
Com estupidez e maldade,
Com descuidos e indiferenças,
Entretanto... a terra arde...
Não queremos que a nossa terra
Pareça terra lunar,
Nem queremos que a nossa gente,
Fique sem pão e sem lar.
Que volte o verde da esperança
Com a terra renovada,
Que Portugal merece
Ser terra verde e amada.

Clara Mestre

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Recordando O Moinho da Serra do Picoto (Gradil)

No alto da Serra do Picoto
Havia um Moinho que cantava
Como a água canta na fonte
Quando o vento de mansinho
Com um cheiro a rosmaninho
Passeava pelo monte.
Nunca ele estava parado,
Às velas sempre abraçado
Em transportes de carinho!
O vento não se cansava
De deixar um só momento
De beijar esse moinho.
Tanto amor, tanta ternura
Deste moinho encantado.
A mim parecia-me estar
O Moinho a suspirar
Pelo vento apaixonado.

Clara Mestre

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Chuva

Quando a chuva vai caindo
Sinto-lhe a respiração
Com o seu cair ritmado
Eu oiço-a a cair no chão.
E fico sempre em silêncio
Em paz e meditação
Oiço-lhe bem os murmúrios
E presto muita atenção
Quando a chuva vai caindo
Sinto-lhe a respiração.


Clara Mestre

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Tenho asas, tenho braços

Tenho asas, Tenho braços
E tenho mãos para escrever
E dar sentidos abraços
A quem me saiba entender
Ter asas, poder voar
Ir sondar o infinito
Declamar meus poemas
Poder dizê-los num grito
Oh poetas meus irmãos
Benditas as vossas mãos
Benditos vossos abraços.



Clara Mestre

domingo, 28 de julho de 2013

Indiferença

O meu prédio
É uma torre de Babel
Das muitas pessoas
Que cá moram
Só conheço quatro
É triste, desolador
E caricato
Bom dia, Boa tarde
E Boa noite
Não passam de palavras
Encontros e desencontros
Chegadas e partidas,
Só palavras
Engolidas pelo stress
Entre dois elevadores
Nas subidas e descidas...

Clara Mestre

sábado, 27 de julho de 2013

O Meu Relógio

Na minha alegre casa de jantar
Eu tenho um relógio brincalhão
Tem olhinhos sempre a dar a dar
É um mocho com muita distinção

Seu sistema nervoso é engraçado
Com seu tique-taque de energia
Dá as horas em ritmo compassado
Ao ritmo da minha fantasia

O nosso coração é um motor
Tão pequenino que mal se sente
O meu relógio é um mocho sedutor
O seu pulsar anima toda a gente

Neste mundo de falsas aparências
Nem todos os relógios são iguais
Tanto os corpos como as consciências
Podem ser apenas irreais...

Clara Mestre

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Avó!...

Avó,
Poema da minha infância
Velhinha querida!...
Dos meus tempos de criança
Meu perfume de bondade
De saber e de constância
Avó... tu foste aquela mulher!...
Valente e submissa...
Mãe coragem! Avó doce...
Sem maldizer, sem malícia
Foste o tudo para quem
Tinhas que ser
Avó, tu foste um poema
Que valeu a pena ler.

Clara Mestre

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Relógio Sem Ponteiros

Na minha vida ainda há
mil cantigas por cantar
Desejos de camponesa
com searas por ceifar

Nunca vivi horas certas
nem pêndulo a marcar horas
Venho abraçando esta vida
andando sempre a desoras

Nas cantigas que cantar
Quero cantá-las livremente
Estou pronta para levar
A vida sempre de frente.



Clara Mestre

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O Nascer do Sol

Saí de casa, cedo e sem destino,
Atravessei o Tejo e vi nascer o Sol,
Os barquinhos parecem-me brinquedos
E o Rio na sua calma, era um lençol.

E entrei naquele nascimento,
Certa desta grande realidade:
Se Deus nos dá o Sol, todos os dias,
Só temos que merecer esta verdade!


Clara Mestre

terça-feira, 23 de julho de 2013

Vamos Mudar o Ambiente

Pensando no Ambiente
Culpo todos os governos
Que não sabem respeitar
Este lindo planeta
Que todos devem amar.
Porque há leis que  não se cumprem!...
Deviam ser cumpridas,
Deviam levar a sério
Os estragos e as nossas vidas.
Os fogos por todo o mundo
E tantas outras maldades
Fazem sempre surgir guerras
E grandes atrocidades!...
Façam proibições a sério
A pensar no ambiente
Que está farto de penar
E cada vez mais doente.
Cada governo só olha
Para o seu estúpido umbigo
A gozar o dia-a-dia,
Futuro não lhes faz sentido.
É verdade que não temos
Educação a primor
Mas está nas mãos dos governos
Transformar, fazer melhor...

Clara Mestre

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Aos Amigos

É pura a amizade
Que sinto por vocês
Mas não basta dizê-lo!
Vivê-la é que importa.
E então de quando em vez
Quando a vida permite
Eu vou de vez em quando
Bater à vossa porta.
Na minha vida entraram
Com um sorriso franco
E meus braços abertos
Convidam a entrar
Essa amizade pura
Dos vossos corações
E toda a ternura
Que vi no vosso olhar.

Clara Mestre

sábado, 20 de julho de 2013

O Palco da Vida

Sou a dor que então senti
e mágoas que disfarcei
invejas que consenti
e gritos que amordacei

Sou alegre por sinal
só não vê quem não quiser
sinto o bem, não penso o mal
sou por destino mulher.

Vivo no palco da vida
atriz, farta de fingir
mas quando cair o pano
não sei se vou resistir...

Clara Mestre

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Vida Inter-uterina

Bebé ouvia
mas não percebia...
Ouvia chorar sua mãe
um choro sentido
que não lhe assentava bem.
Bebé não sabia
o que havia de fazer
com aquele sofrer.
Sabia que tinha sido
um espermatozóide atrevido,
o primeiro a chegar à meta.
Isso sabia. Foi coisa certa!...
Como parar
o mau estar que sentia?
dias, meses, dia a dia...
Depois de muito sofrer
a mãe teve o bebé,
bebé grande a valer...
5 quilos uma menina,
que começava a viver,
depois do muito sofrer...
Tão frágil no sentir
sem saber, o que estaria
para vir.
Mas sabia que foi:
Primeiro espermatozóide
depois embrião
sempre em sofrimento
em primeira mão...
Os nervos esfrangalham
a fragilidade
e tiram sentido
à felicidade.
Lembrança sofrida
do choro da viagem
fica para a vida
a Mulher Coragem.
Clara Mestre

terça-feira, 16 de julho de 2013

A minha apresentação

Orgulho-me de ser em toda a parte
Portuguesa com garra mas calminha
Eu que me chamo Maria Clara
Sou para toda a gente a Clarinha

Sou Clarinha sim, de pequenina,
Sempre muito alegre em toda a parte,
Num louco anseio de alegrar os outros,
É nisso que consiste a minha arte.

Era Larinha para a minha mãe,
Fui sempre a Clarinha da avó,
Às vezes também sou Maria Clara,
Mas eu gosto de ter um nome só.

Fui a Clarinha da tia Jesus,
Clarinha na gíria do trabalho,
E sou sempre Clara no dizer
Aos outros aquilo que nada valho.
Clara Mestre